Compulsão alimentar

Compulsão alimentar

Compulsão alimentar

Atualmente, a compulsão alimentar, a obesidade e outros distúrbios alimentares, como a anorexia e a bulimia, são muito divulgados pela mídia, por causa do importante aumento de incidência de casos nos últimos 20 anos. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), existem mais de um bilhão de adultos e 17 milhões de crianças com sobrepeso em todo o planeta. Diante desse contexto, observa-se que, embora os distúrbios alimentares possam se apresentar com diferentes roupagens, intensidades e gravidades, estão sempre relacionados à perda ou ganho de peso corporal e ligados, mesmo que de modo inconsciente, a dificuldades emocionais.

A relação do ser humano com o alimento inicia-se nas primeiras horas de vida e, geralmente, é proporcionada pela mãe que acolhe, toca, acalenta e alimenta o bebê com o seio. A primeira forma de comunicação do bebê com o mundo é por meio da boca, pela qual ele chora, comunicando algum desconforto; mama; experimenta objetos com gostos e texturas diferentes e começa a desenvolver o seu modo de existir no mundo.

A família é a primeira fonte de informação da criança, principalmente a mãe. Os hábitos de alimentação, higiene e atitudes de agir, são geralmente, adquiridos na primeira infância pela imitação proporcionada pelo meio ambiente. Posteriormente, com a entrada da criança na escola, alguns hábitos vão se modificando. Muitas vezes, durante o processo de desenvolvimento, pode ocorrer uma confusão na equação entre o valor simbólico do alimento - o prazer e o afeto - que pode iniciar muito cedo, nas primeiras relações com as figuras parentais e com o meio ambiente.

Citarei alguns exemplos do cotidiano: é muito comum percebermos que os bebês "gordinhos" ou "fofinhos" são elogiados e estimulados a comerem mais do que o necessário. Os episódios de anorexia também podem aparecer camuflados na primeira infância, a criança pode apresentar uma recusa ao alimento, como forma de reagir em oposição aos pais. Ela sabe, mesmo que de modo inconsciente, que o alimento é um ponto delicado e valorizado por eles. Por isso, quando recusa um alimento ou uma refeição, provoca nos pais várias reações emocionais que podem até chegar ao exercício da chantagem emocional. Então, geralmente quando a confusão acontece, o valor simbólico do alimento passa a ser estabelecido da seguinte forma: alimento = amor e aceitação.

No decorrer da vida, as relações com os alimentos continuam permeadas pelos significados simbólicos que a comida assumiu na vida de cada um desde o nascimento. Assim, os significados simbólicos podem apresentar-se de diferentes maneiras: na recusa anoréxica do alimento, na voracidade bulímica ou na relação de amor e ódio dos obesos com os alimentos. Por isso, os distúrbios alimentares não podem ser tratados isoladamente e não devem ser considerados apenas como uma causa de problemas de saúde. Na realidade, eles são sintomas capazes de revelar as formas de interação da pessoa consigo e com o mundo. Os conflitos psíquicos, as frustrações, a busca de prazer e equilíbrio, geralmente, estão vinculados à relação estabelecida com os alimentos que comemos ou deixamos de comer.

O comer compulsivamente pode estar, entre outros motivos, camuflado por uma necessidade psicológica e inconsciente de buscar consolo e companhia, de enfrentar frustrações, medos, ansiedades e decepções, de combater o tédio e a solidão, e preencher um vazio afetivo. Desse modo, quando você come demais e sabe que o corpo de modo fisiológico já deveria estar saciado, é preciso parar nesse momento, sair de perto dos alimentos e tentar olhar para dentro de si e se perguntar: Você está com fome de quê?

Sabemos que a resposta não é tão fácil de ser encontrada, mas a nossa equipe multidisciplinar poderá ajudá-lo a compreender e trabalhar as suas dificuldades emocionais e a desenvolver-se melhor em relação à prática de hábitos alimentares saudáveis. O estabelecimento de um equilíbrio entre o bem estar físico e psíquico é fundamental para uma boa qualidade de vida!

Patrícia Gomes Accioly é psicóloga, especialista em psicanálise e mestranda da Universidade de São Paulo - USP Ribeirão Preto.

Cristina Trovó
Nutricionista

UTI das Ideias - Soluções Corporativas em Web e Design